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A função de um bom jornal e, consequentemente, de um bom jornalista, é ver a vida como um fenômeno estável e vê-la como um todo. Ver a vid estável significa manter os eventos do dia dentro de ume proporção. Ver a vida como um todo significa compreender as conexões e efeitos dos diversos acontecimentos.
Quando foi elaborada a primeira minuta da primeira emenda da Constituição americana, proibindo qualquer restrição à liberdade de imprensa, a suposição era de que os jornais seriam todos financiados pelos partidos. Proteger os jornais era um modo de proteger a livre organização partidária.
Desde aquela época os jornais têm sido acusados de favoritismo político, mas o objetivo oficial sempre fora o de dar coerência e significância às notícias, sem representar partido político algum. Porém, é bem verdade que a elite da reportagem vê a realidade de um modo diverso da maioria do povo americano. Entretanto, o fator mais importante na cobertura jornalística da política tem a ver com os instintos,as pressões e os incentivos do moderno jornalismo, e não com o preconceito partidário.
As mudanças financeiras, políticas, culturais e tecnológicas tornaram o jornalismo no que ele é anualmente. Isso inclui a multifacetada influência da televisão, o estilo moderno das campanhas políticas, o papel alterado da presidência americana e os fundamentos financeiros da imprensa.
Dois dos muitos impactos da televisão na vida moderna foram particularmente danosos ao jornalismo. O primeiro é a estranha equivalência dos espetáculos, tudo na TV é espetacular., o que levou a convergência do jornalismo com o entretenimento. Além disso, a TV tende a mostrar os fatos em fragmentos, contrariando a premissa de que o jornalismo deve analisar e explicar a atualidade. Outro impacto que a televisão trouxe ao jornalismo foi a transformação dos estímulos internos da imprensa, de modo que passou a haver uma diferença entre o jornalista e o repórter. Este sendo menos glamuroso, mais ligado à origem do jornalismo em que cobrir o evento e conseguir o máximo de informações sobre ele é o que importa. Já o jornalista é uma personalidade, sua imagem e presença é o importante e não as informações que trás. Este profissional não se dedica a apurar e pesquisar, pois o grande valor que possui é a sua imagem.
Marco do surgimento desta distinção foi o programa americano “60 minutes”. Até a realização deste programa os departamentos de jornalismo eram deficitários e economicamente secundários nos grandes conglomerados de mídia. Porém, “60 minutes” criou um formato de jornalismo que atraiu a audiência, trouxe receitas à rede de TV e transformou o seu âncora em celebridade. Este não pesquisava as matérias em que aparecia, o importante era simplesmente que ele aparecesse.
No decorrer do século XX houve também uma mudança em como a imprensa retrata o processo democrático e qualquer tipo de ação. Se na primeira metade do século havia um respeito para com os grandes nomes da política, após a década de 70 e, especialmente, após o fim da guerra fria, a cobertura passou a ser desrespeitosa e os jornalistas passaram a se sentir no meio de um jogo em que os agentes da política sempre visavam enganar ao campo jornalístico.
Este resumo se refere a um capítulo do livro "Detonando a Notícia", de James Fallows.Veja aqui como adquirir este livro.