Resumo: O que há de comunicação na Comunicação Política, de Wilson Gomes

Lucas Reis

,

Há uma zona crescente e complicada de interface entre os universos da comunicação de massa e da política. Para caracterizar este fenômeno, surgem expressões como “política midiática”, e para estuda-lo surge uma área denominada “comunicação política”. Porém, deve-se estar atento ao fato de que várias expressões para este tema se referem a um amplo e variado número de fenômenos, e que uma expressão pode ser usada para expressar fenômenos diferentes, a depender da escola de pensamento que a utiliza. O livro pretende contestar uma compreensão da interface entre a comunicação e a política que vê esta como provedora de conteúdos e manipuladora daquela. Para fazer esta contraposição, apela-se a um exame das transformações na comunicação de massa.

A zona de interface entre comunicação e política inclui atividades variadas como o jornalismo e a assessoria de marketing político, ou a propaganda bélica de Estado e os factóides políticos. Mas, daí já se obtêm que há um fluxo bidirecional de interesses entre a comunicação de massa e a política.

A área de pesquisa em comunicação e política surge, inicialmente, como duas vertentes de investigação: a primeira tratando sobre como o universo político usa da comunicação massiva para atingir certos objetivos ou ocasionar alteração em si mesma; e a segunda vertente visa estudar os aspectos da comunicação que se vinculam à política (como RP, ou propaganda política). Entretanto, essa separação deve desaparecer graças a o caráter interdisciplinar que o campo vem tomando.

Pode-se estabelecer três modelos para a relação entre comunicação e política, lembrando que esses modelos não se excluem mutuamente, podendo assim conviver no seio de uma sociedade por tempo indefinido. No primeiro modelo, a comunicação de massa se restringe, basicamente, à imprensa de opinião. E esta fazia parte do universo político. Trata-se da época das revoluções burguesas, em que a imprensa funcionava como instrumento de discussão pública, um instrumento burguês e anti-aristocrático. Ainda neste modelo, quando o estado torna-se burguês, há a necessidade de a imprensa se reposicionar. Como não havia mais um estado aristocrático contra o qual se unisse toda a burguesia e a imprensa, rapidamente o grupo se divide entre aqueles que controlam o governo e os que se opõem a este. Assim, a imprensa de opinião da burguesia revolucionária se torna uma imprensa de partido quando se estabelece o Estado burguês. É neste momento que surge o discurso de defesa à liberdade de imprensa, vista como fundamental para o pleno confronto de opiniões entre os partidos governistas e oposicionistas. Neste modelo, a liberdade de imprensa representava a liberdade de partido, de expressão de concepções e ideais políticos.

No segundo modelo, a imprensa ainda se parece bastante com o modelo anterior, mas surgem outros dispositivos tecnológicos operados por novas instituições (rádio, cinema e TV) que se encarregam de produzir e difundir massivamente produtos culturais. Ainda neste modelo, a comunicação de massa era vista pela política como um meio para atingir uma massa populacional. Neste modelo, surgem as primeiras pesquisas sobre comunicação e política, estes preocupados em analisar os efeitos da comunicação sobre o mundo político. Do ponto de vista da Esfera civil, precisa-se considerar o fato de que a comunicação de massa atinge pessoas localizadas em pontos diferentes e conformações diferentes, constituindo assim, uma nova esfera de publicidade. Como não formam públicos de debates, essa Esfera passa a ser vista como meros consumidores de informação e cultura, enfim, como um público passivo. Este é o modelo em que os meios de comunicação de massa já começam a se organizar enquanto indústrias, mas ainda não há campo jornalístico e é possível escolher entre gerar capital econômico ou capital político para seus donos.

O terceiro modelo se torna dominante de maneira gradual. A imprensa de partido passa a ser assimilada por uma indústria da informação que também incorpora os outros dispositivos para criar um sistema de produção e distribuição de informação em larga escala, de modo a transformar a informação num negócio em que os principais mantenedores são os consumidores e os anunciantes. Os consumidores queriam um tipo de informação e num ritmo que apenas a imprensa empresarial poderia suprir. Com mais consumidores sendo atendidos pela grande imprensa, esta se dá conta de que a audiência que possui é um bem interessante ao setor produtivo e passa a vende-la. Assim, surge uma indústria da informação quando esta cativa a opinião e a “atenção pública” e vende-a a um anunciante.

Este resumo se refere ao capítulo um do livro "As Transformações da Política na Era da Comunicação de Massa".Veja aqui como adquirir este livro.

Veja a continuação do Resumo
0 Responses to "Resumo: O que há de comunicação na Comunicação Política, de Wilson Gomes"